Para Salibi, a inovação é a única saída, e quando uma empresa não consegue se adaptar, cria oportunidade para outras. Nesta entrevista, aborda justamente o quanto a cultura é o grande gargalo da transformação digital: "Se não tem uma cultura para sustentar a transformação, a tecnologia será usada de forma errada".
Leia os principais trechos:
A sua palestra aborda o novo código da cultura. O que o senhor define como cultura organizacional?
Cultura é o sistema de alinhamento de pensamento que uma organização tem e que a norteia em busca de um objetivo. É algo que vai sendo construído ao longo do tempo. Antigamente, você criava esse sistema de pensamento, de comportamentos, e ele durava muito tempo. Hoje, pelas disrupções tecnológicas e econômicas, está tendo que ser constantemente ajustado, e é aí que o bicho pega! Muitas empresas não conseguem fazer isso, e acabam sendo “atropeladas”. Tecnologia todo mundo tem, agora a maneira como você encara tudo isso é fruto da cultura da empresa. Aí é o desafio: o ser humano não gosta de mudança, ele gosta de previsão, de constância. Hoje a empresa que não está na ponta do pé o tempo todo acaba sendo engolida, e você manter uma empresa constantemente nesse estado não é fácil. Por isso, tantas empresas estão perdendo sua relevância, como Blockbuster, Nokia, Blackberry e tantas outras. Temos estudado isso: como desenvolver sistemas de gestão para que as empresas não se percam e continuem relevantes.
O que caracteriza essa era de rupturas que você aborda na palestra?
Essa era é mais conhecida pela ruptura tecnológica, mas ela não é só isso. Ela é política, econômica e social. As rupturas vêm de todos os lados. Hoje, por conta da política econômica dos Estados Unidos, está sendo criada uma nova ordem econômica mundial. Veja o exemplo da Apple: de repente, produzir um iPhone passará a custar muito mais, de um dia para o outro. Como você adapta a sua empresa a isso? Como você mantem uma empresa resiliente para absorver esse tipo de coisa? O grande problema das empresas é que elas não foram construídas para serem resilientes, e, em um momento disruptivo como este, elas se perdem, não sabem o que fazer. A ruptura está em todas as esferas. Por isso, todo mundo precisa estar em movimento. O mundo não para e a gente tem que saber se adaptar.
Como esse momento possibilita a inovação?
A inovação é a única saída. A partir do momento em que o teu modelo de negócio não funciona da forma como funcionava, apenas uma maneira diferente de pensar vai salvar a empresa e levar ela adiante. Quando algumas organizações não conseguem se adaptar, é criada a oportunidade para outras. É o caso da Blockbuster. Ela não se adaptou ao mundo da tecnologia, aí veio a Netflix e entendeu essa nova dinâmica. Em pouco tempo, a Blockbuster perdeu totalmente a sua relevância. As organizações precisam ter um sistema que produza inovação de uma forma consistente e recorrente. Inovação não pode acontecer só de vez em quando.
O senhor já afirmou que é possível mudar a cultura de uma organização. Isso pode acontecer desde as pequenas empresas até as grandes multinacionais?
Sim! A cultura age em empresas de uma pessoa até empresas com centenas de milhares de colaboradores. Quando fundei a HSM, éramos três pessoas, e lá nós já estabelecemos muito claramente qual seria a cultura da empresa. Nossa visão acerca dos clientes, inovação, já estava tudo definido desde o começo. As pessoas querem mudanças, mas também já querem sair vendendo mais no dia seguinte. Não funciona assim. Por isso o papel da cultura é tão importante.
Qual o papel dos princípios organizacionais na transformação da cultura de uma empresa?
Eles tangibilizam a cultura. Eles dão o tom para o que a organização acredita em termos de visão, comportamento e estratégia. É algo mais palpável, diferente da visão, missão, valores e propósito, que são muito importantes, mas mais abstratos. Os princípios trazem para o dia a dia, para entender o que é importante para aquela empresa, o que ela espera em termos de comportamento, para que todo mundo se alinhe. A Amazon, por exemplo, faz isso muito bem. A Amazon tem 16 princípios que conseguem alinhar cerca de um milhão e meio de colaboradores.
O que esperar da sua palestra no 11° Fórum IEL de Inovação?
Vou trazer essa visão atualizada sobre cultura, que é um tema muito importante, mas que ficou parado no tempo. Antigamente, tudo mudava, menos a cultura. E agora a gente percebe que o grande gargalo da transformação digital tem mais relação com a mudança cultural do que com a tecnologia, porque tecnologia todo mundo tem. Agora, se você não tem uma cultura que sustenta tudo isso, a tecnologia vai ser usada de maneira errada. Vou apresentar os elementos que possibilitam uma evolução cultural saudável.